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23/10/2014 - Osasco - SP

Comissão Municipal da Verdade de Osasco divulga os trabalhos em coletiva de imprensa




da assessoria de imprensa da Prefeitura de Osasco

Na quarta-feira (22/10), os membros da Comissão Municipal da Verdade de Osasco (CMVO) realizaram uma coletiva de imprensa, no Plenário Tiradentes, na Câmara Municipal, para apresentar o trabalho que está sendo realizado pela Comissão e abordar a importância do acesso das informações e da divulgação das apurações em relação às violações de direitos humanos ocorridas na cidade de Osasco durante o período da ditadura militar entre 1964 a 1985. Os dados do relatório final entregues à Comissão Nacional da Verdade (CNV) se transformarão em livro e em revista como registro da história da cidade.
 
No início da coletiva explicou-se que a CMVO instituiu-se pela Lei nº 4.650, de 14 de agosto de 2014, de autoria da vereadora Mazé Favarão, para contribuir com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), pela Lei nº 12.528, de 18 de novembro de 2011. O prazo da CMVO para a conclusão dos trabalhos é de 180 dias a partir da sua instalação, e poderão ser prorrogados por igual período, conforme consta na lei. A entrega do primeiro relatório para a CNV está prevista para o dia 21 de novembro.
Segundo os membros da Comissão, a intenção é reunir o máximo de informação possível, tanto para encaminhar à CNV como para a produção de materiais que serão divulgados à população.
 
"É um tempo curto, por esse motivo os trabalhos continuam até fevereiro. Além do relatório final que será enviado à CNV, o objetivo é produzir a partir dos depoimentos e de toda apuração realizada pela Comissão, documentos para que a sociedade osasquense tenha acesso a essas informações. A ideia é produzir um livro, uma revista, enfim, materiais específicos para diferentes faixas etárias. Assim, destinaremos às crianças, adolescentes e adultos para que possam apropriar-se dessa história", explicou o vice-coordenador geral da CMVO, Luciano Jurcovichi Costa.
 
"Não podemos deixar o passado morrer. Esse livro com os relatos sobre o que ocorreu durante a ditadura militar será a nossa contribuição. Todas as gerações conhecerão e terão ideia do horror dessa época. Uma época que não pode ser esquecida para nunca mais voltar. A luta pela liberdade e pelos direitos humanos são permanentes", explanou o coordenador geral da Comissão, Albertino de Souza Oliva.
Para a coordenadora da subcomissão de Equilíbrio Federativo, a vereadora Maria José Favarão (Mazé Favarão), uma das dificulades da sua subcomissão é encontrar depoentes.  "Temos historiadores empenhados em ler as ATAS da Câmara Municipal daquela época, e talvez pela própria repressão do período, não há registros. Mas, quando vou às ruas encontro alguém que conhece um vizinho que foi preso. Espero que essa coletiva de imprensa nos ajude a encontrar mais pessoas para nos contar como era Osasco na ditadura militar". 
 
"Nesse pouco tempo de trabalho, fizemos uma lista de nomes de agentes do Estado, e conseguimos rastrear dados, mas não contato efetivo para as oitivas. Por esse motivo, pedimos o apoio da CNV que por Lei Federal tem força convocatória maior", disse o coordenador da subcomissão de Agentes do Estado, Murilo Leal Pereira Neto, que colaborou também com o Grupo de Trabalho “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores, às Trabalhadoras e ao Movimento Sindical” (GT13) da CNV.
 
"Foi uma conquista da sociedade brasileira ter o direito da própria história. É preocupante ver o desconhecimento histórico dos jovens e o distanciamento das pessoas na política. Tivemos muitos depoimentos impressionantes como o do filósofo e jornalista Antonio Roberto Spinosa que é osasquenese e foi preso no Rio de Janeiro. Qualquer pessoa que tenha sofrido qualquer tipo de constrangimento nos interessa, queremos ouvir", disse Luciano Jurcovichi Costa.
 
"Temos notícias de várias empresas que colaboraram com o regime militar. Buscamos informações junto aos arquivos do Estado e soubemos que empresas pesquisavam nomes de trabalhadores que atuavam junto ao DOPS. No caso específico da Cobrasma e da greve de 1968, convidamos o empresário Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho para uma oitiva em 10 de novembro", adiantou o coordenador da subcomissão de Entidades da Sociedade Civil, Jorge Nazareno Rodrigues, que pretende dar continuidade aos trabalhos da Comissão: "O prazo para o término dos trabalho pode ser prorrogado. A título de informação e conhecimento é preciso saber o que se passou na nossa cidade nesse período, as consequências e onde foram parar as pessoas depois da greve de 1968". 
 
Para colaborar com a Comissão nas apuração das violações de direitos humanos ocorridas em Osasco basta encaminhar informações da época como fotos, vídeos, documentos, cartas, depoimentos, entre outros dados, para o email cmvoosasco@gmail.com ou deixar esses materiais aos cuidados de Rosmari de Souza na 56ª Subsecção de Osasco, localizada na avenida das Flores, 707, no bairro do Jardim das Flores. 
 
A primeira coletiva de imprensa da Comissão contou com a participação do coordenador geral da CMVO, Albertino de Souza Oliva, advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) subseção de Osasco; o vice-coordenador geral da CMVO, Luciano Jurcovichi Costa, coordenador de Relações Internacionais de Osasco; a coordenadora da subcomissão de Equilíbrio Federativo que investigará como os militares interviram na legislação, nos quadros de funcionários e no funcionamento na Prefeitura de Osasco e na Câmara Municipal, Maria José Favarão (Mazé Favarão), vereadora; o coordenador da subcomissão de Agentes do Estado que investigará quem foram os torturadores atuantes no município, Murilo Leal Pereira Neto, diretor acadêmico do Campus Osasco da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e o coordenador da subcomissão de Entidades da Sociedade Civil que identificará a maneira pela qual a ditadura interferiu na sociedade civil e entidades como sindicatos e movimentos estudantis, Jorge Nazareno Rodrigues, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região.
 
Também fazem parte da Comissão, o coordenador da subcomissão de Vítimas que investigará as vítimas da ditadura e colherá depoimentos, Aparecido José Dias, advogado e ex-secretário geral da OAB subseção de Osasco, e o coordenador da subcomissão de Locais/Centro de Tortura e Investigação que visitará os locais onde aconteceram as práticas de violações de direitos humanos, Antônio Carlos Casulari Roxo da Mota, diretor do Centro Universitário Fieo (Unifieo) e coordenador do curso de Comércio Exterior.
 
Audiência Pública
Após a coletiva de imprensa, iniciou-se a audiência pública com Amiraldo Pereira de Santana (Sinho Alfaiate) para a subcomissão de Entidades da Sociedade Civil da CMVO. Mesmo não participando da militância política da resistência é considerado uma das vítimas do regime militar.
 
Em julho de 1969, aos 29 anos, o alfaite Amiraldo Pereira de Santana foi buscar a namorada Maria Helena de carro no ponto de ônibus como costumava fazer, no bairro de Quitaúna. Quando estavam namorando dentro do carro ouviram um barulho forte que parecia uma bomba, e se abaixaram. "Depois fui ver que o barulho na verdade eram tiros de fuzil. Atiraram do lado esquerdo do carro, onde fica o motorista. Por sorte, não nos mataram. Após o susto, cada um foi para a sua casa. Levei o carro na oficina e 30 minutos depois estava sendo preso", disse Sinho Alfaiate durante a audiência pública.
 
Dois militares o levaram da sua casa dizendo que iriam até a delegacia, mas o trajeto foi outro. "Quando cheguei na avenida dos Autonomistas eles entraram à esquerda, em direção ao quartel. Tive medo porque na época ouvíamos os casos de pessoas desaparecidas ao serem levadas para lá. Fui preso, torturado e pressionado. Perguntavam qual grupo eu pertencia. No quartel do Ibirapuera em São Paulo fiquei oito dias e oito noites em cela individual e incomunicável. Nesses dias só comi duas bananas, emagreci muito. Meu pai era uma pessoa simples, e mesmo assim, foi bater nas portas de coronéis e generais de São Paulo dizendo que o filho era inocente", contou.
 
"Um dia antes do atentado, ouvi falar que um Fusca vermelho havia passado em frente ao quartel, e jogado uma bomba. Uma triste coincidência, pois eu tinha uma carro parecido, minha namorada na época que hoje é minha esposa, morava em Quitaúna e eu sempre andava naquela região. O mesmo bairro onde localizava-se o quartel. Ao sair da prisão, levei quase sete anos para me recompor. Perdi meus clientes e muitas pessoas atravessavam a rua com medo de me cumprimentar. Quando ouço alguém dizer que sente saudades da ditadura, percebo que a pessoa não tem ideia de como foi viver nessa época. No meu caso, duas pessoas inocentes poderiam ter sido mortas", contou.
 
Manuel Dias do Nascimento (Neto) que também participaria dessa audiência pública não pôde comparecer e sua oitiva será reagendada. Manuel Dias do Nascimento foi diretor fundador do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região e uma das lideranças da greve de Osasco, em 1968. Após esse episódio, passou a atuar como membro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).


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